Artigo publicado no SAL - Seminário de Arquitetura Latino-Americana
Este texto apresenta o trabalho que vem sendo realizado de assistência técnica a uma comunidade, conhecida como Vila Ininga, situada na zona leste da cidade de Teresina, capital do Estado do Piauí, e que busca recuperar uma zona degradada urbana, através de soluções inovadoras de habitação de interesse social e que, paralelamente, possibilite a inclusão social desta comunidade que vive na área a mais de cinquenta anos, de forma marginal.
O trabalho vem sendo realizado graças a um projeto de extensão, vinculado ao PROEXT/ MEC e ao Ministério das Cidades; a um projeto de pesquisa de iniciação cientifica, PIBIC, bem como, através de atividades didáticas nas disciplinas “Leitura da Arquitetura e da Cidade” e “Projeto Arquitetônico 6” , que tem direcionado os trabalhos acadêmicos para esta área.Dessa forma, o tripé ensino/ pesquisa e extensão é que vem dando suporte para a execução das etapas do projeto de intervenção urbana na área.Pode-se afirmar que aproximadamente cinquenta pessoas, entre alunos, docentes e colaboradores estão voltados para coleta de dados, estudos de diagnósticos, análises arquitetônicas e urbanas, e propostas para o bairro Ininga.
Os atores envolvidos neste projeto são a comunidade local que vive na Vila Ininga, a Prefeitura Municipal de Teresina, através da SDU Leste, a Igreja católica através da Paróquia de Fátima, que desenvolve um trabalho de inclusão social na região e a Universidade Federal do Piauí, através do Centro de Tecnologia que vem realizando este projeto de requalificação urbana.
2. Projeto urbano de recuperação de área degradada e inclusão social em Teresina.
Figura 01: Mapa de Teresina com detalhe da localização do bairro em estudo
Fonte: Google maps
Ao analisar-se a questão das políticas públicas desenvolvidas em nível municipal para o problema da habitação de interesse social em Teresina, chegou-se à conclusão de que as propostas existentes são desprovidas de soluções mais humanas e sustentáveis. Nos vários programas existentes não existe uma proposta voltada para uma melhoria, de fato, na qualidade de vida dos habitantes das propostas utilizadas: as instituições não inovam, e apenas repete um padrão de habitação unifamiliar, um “modelo”, desvinculado dos aspectos sócio-culturais e geográficos locais.
São construídas milhares de casas, em terrenos devastados de vegetação, sem uma preocupação com o desenho urbano da área, desprovidos de áreas de convivência, de praças, construindo-se assim, uma paisagem desumana e árida. Paralelo a tais soluções, a população carente, continua construindo seus “ mocambos” em áreas invadidas, utilizando a taipa de pau a pique nas paredes, coberturas em palha de carnaúba, pisos de terra batida, sem banheiros, sem rede de saneamento e esgoto, e com condições precárias de salubridade, enfim“sobrevivendo” de uma forma primitiva, que nos remete à cultura indígena regional das matas dos cocais.
A habitação popular não se resume apenas a um produto, e sim a um processo, caracterizada como resultado de uma relação complexa de produção com determinantes políticos, sociais, econômicos, jurídicos, ecológicos, tecnológicos. Não se deve resumir a habitação popular à unidade habitacional, sendo necessário que seja considerada de forma mais abrangente contemplando aspectos como serviços urbanos: infra-estrutura urbana, equipamentos sociais, de lazer, educacionais, esportivos e de geração de emprego e renda.
2.2. A área em estudo: Vila Ininga.
Figura 02: Localização do bairro Ininga na cidade de Teresina
Fonte: Google maps
A Vila Ininga está localizada na zona leste de Teresina, em uma área de fortes contrastes urbanos, compostas por residências de padrão médio alto e de casas auto-construídas, que denotam a falta de planejamento urbano municipal para esta região.
A área em estudo fazia parte das terras da Fazenda Ininga (Fig. 02), que deu origem ao nome do da Vila. Em 1978, foi criada no local, uma cerâmica administrada pelas Famílias Fortes e Freitas nas terras pertencentes ao Sr. Noé Fortes. Muitas famílias se instalaram na região para trabalharem na produção cerâmica, consolidando-se na área e dando origem às primeiras comunidades. Através de depoimentos dados, soube-se que após algum tempo, houve uma cisão na sociedade das famílias Freitas e Fortes, fazendo com que a família Fortes criasse a Cerâmica Fortes e Barroforte, e se transferissem para a zona rural de Timon, no Maranhão. A família Freitas permaneceu com o nome da Cerâmica Livramento, que após algum tempo, também foi transferida para Timon.
Observou-se em visita realizada ao local, que até os dias atuais, muitos dos descendentes dos antigos funcionários, ainda habitam a área de forma primitiva, sem nenhuma infra-estrutura urbana. A região na qual estas famílias vivem é conhecida nos dias atuais como Vila Ininga e Vila Cerâmica, e fazem parte do bairro Ininga. Por outro lado, houve outro fato marcante na evolução urbana do bairro, que foi a implantação de um Campus Universitário no bairro que valorizou mais a área, atraindo novas residenciais, mas que nenhuma melhoria trouxe para a comunidade que vive na Vila Ininga.
Quanto à infra-estrutura do bairro, observou-se que a maioria das ruas não é pavimentada, sendo estas em terra, sem iluminação pública apropriada. O abastecimento de água é realizado pela AGESPISA, mas o local não possui rede de esgoto, observando-se ainda que não existe coleta de lixo. Tal quadro é propicio para a proliferação de doenças, como a dengue, o calazar, entre outras enfermidades tropicais.
Figura 03: Diagnóstico de espaços e usos da Vila Ininga.
Fonte: Disciplina: Projetos arquitetonicos 6.DCCA/CT/UFPI.Agosto de 2011
No local existe apenas como equipamento urbano (Figura 03), uma escola municipal de ensino fundamental, uma Igreja católica, a casa paroquial e uma creche mantida por uma ONG alemã. A população queixou-se do abandono por parte da Prefeitura, que segundo eles, não dão nenhum tipo de assistência ao local. Observou-se nas visitas em campo e nas entrevistas, que é a Igreja Católica, através da Paróquia de Fátima, que vem realizando um trabalho social na região.
Quanto às tipologias habitacionais existentes na Vila Ininga (Figura 04), observa-se que as casas são auto construídas, sendo grande parte com paredes em taipa ou em tijolo com furos, cobertas com telhas cerâmicas e sem reboco. No programa de necessidades destas casas, observa-se que o número de cômodos é mínimo e grande parte delas, somente possuem uma sala, um quarto e cozinha. Os banheiros inexistem e o que há, são pequenos espaços externos fechados com palha de babaçu, descobertos, aonde os usuários tomam seus banhos.
Figura 04:Tipologias habitacionais da comunidade. Fonte: Autoria de Priscila Meneses, Thabata Duarte e Rayla Meneses . Relatório final de Extensão. PROEXT/DCCA/CT/UFPI. Dezembro de 2011.
Figura 04:Tipologias habitacionais da comunidade. Fonte: Autoria de Priscila Meneses, Thabata Duarte e Rayla Meneses . Relatório final de Extensão. PROEXT/DCCA/CT/UFPI. Dezembro de 2011.
São aproximadamente cinquenta casas auto construídas e que a cada dia aumentam mais, devido ao processo acelerado de invasões na área. Os terrenos não possuem documentação legalizada, e a grilagem domina, através de pessoas que comandam estas invasões, como por exemplo, um senhor conhecido por “Pezão” que “gerencia” estas invasões.
Figura 05: Localização do bairro Ininga na cidade de Teresina
Fonte: Fotografia de Alcilia Afonso. Abril de 2011.
Quanto à ocupação profissional dos habitantes que vivem na vila, observou-se que os homens trabalham em sua maioria na construção civil, como serventes, pedreiros, eletricistas, e as mulheres em lavagem de roupas e costura.
2.2. Propostas de requalificação urbana para área.
2.2.1. Criação de um centro social urbano
Figura 06: Centro Social Urbano
Fonte: Autoria Bruna Araújo,Luzia Lisboa e Philipy Rodson. GAU/ DCCA/CT/UFPI.Agosto de 2011
A proposta é dotar a área de um complexo arquitetônico dotado de equipamentos culturais como auditório,biblioteca, e espaço expositivo; equipamentos
2.2.2. Propostas para habitação de interesse social
Figura 07: Residencial em terreno da Vila Ininga para o programa Minha Casa Minha Vida.
Fonte: Autoria Bruno Andrade. Projeto de TFG2. GAU/ DCCA/CT/UFPI.Agosto de 2011
Autores do artigo
AFONSO, ALCÍLIA (1); MENESES, PRISCILA (2); LEITÃO, FERNANDA(3);
1. Doutora em projetos arquitetônicos (ETSAB/2006) e professora associada nível 2 do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFPI.
2. Estudante de Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFPI.
Bolsista de extensão/PROEXT 2010
3. Estudante de Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFPI.
Bolsista PIBIC 2011
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