Leituras da arquitetura e da cidade
BAIRRO MAFUÁ
O Mafuá é um dos mais antigos bairros da cidade de Teresina. Distante apenas cerca de 1 km do bairro Centro, conta com uma população de 2.861 habitantes (dados do censo IBGE/2010). Desde sua origem, tem-se visível a predominância do comércio como fonte de renda e fator condicionante da organização do bairro, fato que se comprova no histórico do bairro e na disposição das tipologias ao longo das ruas estudadas (o comércio se concentra na principal rua do bairro, a Rua Gabriel Ferreira).
Fig. 1 - Mapa vetorizado dos bairros de Teresina. Fonte: Arquivo da Prefeitura Municipal de Teresina. 2010.
HISTÓRICO
A formação do bairro deu-se no início do século XX, por ocasião dos trabalhos de nivelamento da Estrada do Gado (Avenida Circular, hoje Avenida Miguel Rosa), para a colocação dos trilhos da estrada de ferro, que tinha a função de ligar Teresina a São Luís, capital do Maranhão.
Na década de 1920, o responsável pela obra, capitão engenheiro José Faustino Santos e Silva, chamou a área de Mafuá, referindo-se às atividades de feira livre e à venda de comida aos trabalhadores no local da construção do parque ferroviário. Além disso, havia a necessidade da construção de uma ponte para manter o acesso do bairro ao centro da cidade, separado pelo corte. A palavra “mafuá” origina-se do francês ma foire, que quer dizer “minha feira”.
Tudo começou quando, nos anos 30, o comerciante Augusto Ferro de Sousa chegou ao bairro trazendo com ele a prática do comércio e dando movimento às ruas Gabriel Ferreira e Amazonas, sendo assim considerado o pioneiro das atividades comerciais do Mafuá. Augusto Ferro possuía uma mercearia, chamada Quitanda Nova e uma sorveteria e picolé Amazonas, a qual permanece até os dias atuais. O comerciante era dono de um grande terreno no cruzamento das ruas Gabriel Ferreira e Amazonas, que circundava seus pontos comerciais e que, após ter sido dado início a atividade comercial na região, foi se vendo cercado de outros comércios a céu aberto, dando origem às feiras livres. Esses comércios não passavam de bancas simples, feitas de madeira, que não pagavam impostos ao governo, pois o terreno era de Augusto Ferro, então os impostos eram cobrados por ele.
Quando morreu, seu patrimônio, dividido entre os filhos, foi quase todo vendido, restando apenas o ponto de venda da sorveteria e picolé Amazonas, ainda tocado por um de seus filhos, chamado Herbert Ferro, junto com a esposa.
Com o início do movimento do comércio, ainda que de forma precária e desorganizada, a Prefeitura Municipal de Teresina, em 1966, com o então prefeito Hugo Bastos, iniciou a construção do prédio destinado ao mercado público do Mafuá, na Rua Lucídio Freitas, que recebeu o nome de Tersandro Paz, passando também a ser conhecido popularmente como Mercado do Augusto Ferro. A partir daí, o bairro passou a ter um local estruturado e apropriado para o melhor desenvolvimento das atividades comerciais, que já vinham ocorrendo no antigo mercado do Augusto Ferro, onde se realizava a venda de carnes, frutas e verduras.
Dentre os antigos restaurantes que existiam no bairro Mafuá durante as décadas de 1970 e 1980, destacou-se o restaurante de Maria Tijubina, o qual ficou famoso pela venda de comidas típicas nordestinas, atraindo não só a população do bairro, como também de outros bairros e até mesmo de fora da cidade. O restaurante foi instalado no início da década de 60, nas imediações da linha férrea, próximo à Praça Augusto Ferro. Hoje, o local não existe mais.
Muitas transformações ocorreram influenciadas pelo fluxo crescente do comércio na região. De início, a região teve a quantidade de pontos comerciais e, com eles, a quantidade de domicílios aumentada. Hoje no local, temos também pontos comerciais bastante conhecidos em todo o estado, o Comercial Carvalho e a panificadora Modelo, que apesar de serem grandes empresas e que exercem forte concorrência, não há um monopólio da clientela local por parte destas, o que demonstra o quanto o bairro possui esse aspecto tradicional e até mesmo familiar (a maioria dos habitantes se conhece de nome e conhece a história do local em que vive, além de manterem o costume de fazer compras e tomar café no mercado.
PERFIS DA PAISAGEM CONSTRUÍDA
Alguns perfis desta análise merecem destaque:
Fig. 2 - Antiga Praça Augusto Ferro. Foto: Arquivo pessoal. 1970.
Fig. 3 - A Praça Augusto Ferro, freqüentada por moradores locais, possui uma banca de revistas e um ponto de táxi. Recebeu o nome em homenagem ao famoso comerciante considerado pioneiro nas relações comerciais no bairro. As casas que existiam próximas ao corte, hoje não existem mais. Foto: Sammia Araújo. 2010.
Fig. 4 - A Sorveteria e Picolé Amazonas é o único ponto restante da herança de Augusto Ferro. Seu filho Herbert, juntamente com a esposa, toca o negócio de venda de picolés do pai, já falecido. Foto: Amina Andrade. 2010.
Fig. 5 - Mercado Tersandro Paz ou Mercado do Mafuá, logo após sua construção, iniciada em 1966. Foto: Arquivo pessoal. 1970.
O Mercado Tersandro Paz, mais popularmente conhecido como Mercado do Augusto Ferro, é um ponto freqüentado tanto por gente do bairro, quanto por pessoas de outros bairros, que vão ao mercado para tomar café, almoçar ou fazer compras. O mercado funciona todos os dias, das 5 da manhã às 1 da tarde. Além dos permissionários, possui também 2 funcionários que cuidam da administração, 4 zeladores e 4 vigias. Lá se pode encontrar desde confecção, miudezas, lanchonete e mercearia, até a venda de carne, frango, peixe, vísceras, frutas, cereais e verduras.
Fig. 6 - Foto tirada do mesmo local que a anterior (fig. 5), 40 anos depois. Pode-se perceber que tanto o viaduto do Mafuá quanto o Mercado Tersandro Paz estão diferentes, e até mesmo o próprio bairro: o local onde ficavam casebres e bancas de madeira com feira livre, hoje dá lugar a uma das maiores redes de mercados do estado, o Comercial Carvalho. Foto: Amina Andrade. 2010.
Fig. 7 - Entrada principal do Mercado Tersandro Paz. Foto: Amina Andrade, 2010.
MOBILIÁRIO URBANO E INFRAESTRUTURA DO BAIRRO
Ao longo da rua, podemos observar a presença de postes, no entanto, a iluminação noturna não é muito eficaz. Não há lixeiros, nem pontos de ônibus, nem mesmo nas ruas que limitam o bairro – que são as que fazem parte do percurso do transporte público. Há também alguns telefones públicos, inclusive dentro do mercado.
As calçadas possuem muitos desníveis e buracos e pouco se vê rampas de acessibilidade aos estabelecimentos. O esgoto é regular e a coleta de lixo é feita nas ruas do bairro, embora se encontre muito lixo abandonado no corte por onde passa o metrô. Além disso, o trânsito não costuma “parar”, exceto nos fins de semana, segundo alguns comerciantes, quando o movimento é mais intenso.
Além disso, também se pode destacar como pontos negativos do bairro: o mau cheiro em todos os locais que se visita próximos às áreas comerciais e a falta de segurança pública, pois não há policiamento local.
Fig. 8 - Calçada da Rua Gabriel Ferreira, principal rua do bairro e de maior movimentação comercial. Foto: Amina Andrade. 2010.
Fig. 9 - Uma das poucas rampas de acessibilidade encontradas no local. Foto: Amina Andrade. 2010.
Fig. 10 - Lixo abandonado no corte por onde passa o metrô, apesar da coleta existir na região. Foto: Amina Andrade. 2010.
Fig. 11 - Corredores internos do Mercado Tersandro Paz, onde se pode perceber certo descaso no que se refere à salubridade do ambiente. Fotos: Amina Andrade. 2010.
Disciplina: Leituras da arquitetura e da cidade, 2011.
Prof. ª Dsc. Alcília Afonso
Componentes:
- Amina Andrade
- Sammia Araújo
Edição: Amina Andrade (estudante de arquitetura-UFPI)
Diagramação: Emerson Mourão (estudante de arquitetura-UFPI)
Parabéns Amina pela pesquisa e pela divulgação da mesma: vamos continuar lendo a cidade e a sua arquitetura!
ResponderExcluirParabéns, Amina. Só dá pra ser arquiteta conhecendo a cidade, né? Bjs
ResponderExcluirAmina, pesquisando a história do bairro você descobriu a história do picolé de milho verde! hahaha, obrigada por essa pauta =*
ResponderExcluirParabens pelo trabalho importante relatando do Mafuá Antigo para o de Hoje. Saudades, belo, belo. Voltei meus tempo de menino.
ResponderExcluirAlgumas informações e fotos que constam nesse blog são da minha dissertação de mestrado sobre o bairro MAFUÁ...por que minha dissertação não está sendo citada ?
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