sábado, 21 de janeiro de 2012

TERESINA SÉCULO XXI: Contrastes urbanos

Leituras da arquitetura e da cidade

AVENIDA MARANHÃO

    A Avenida Maranhão está localizada no bairro Centro às margens do Rio Parnaíba. Possui duas vias, cada uma com três faixas, separadas por um canteiro central. A arborização é feita com a carnaúba, no canteiro central, e nas calçadas laterais apresenta oitizeiros, figueiras e bambus na margem do rio.


Imagem da Av.Maranhão na década de 70, sem o Troca-troca, com a Praça da Costa e Silva e o edifício da Cepisa. Fonte: istoepiaui.blogspot.com, 2011.

ARQUITETURA DO ENTORNO

   TROCA-TROCA

   O troca-troca fica situado às margens do Rio Parnaíba, no entroncamento da Av. Maranhão com a Rua Coelho Rodrigues, a princípio as feiras realizadas neste local aconteciam embaixo de uma figueira e partiu da iniciativa de algumas pessoas trocarem produtos por outros, sem o uso do dinheiro, prática que existe a mais de trinta anos no lugar. Posteriormente os feirantes conseguiram, através de reivindicações ao Governo do Estado, uma estrutura adequada que comportasse os comerciantes, mantendo preservada a figueira existente e sendo inaugurado em 1985.

Troca-troca, somente com a figueira ao fundo. Fonte: Acervo Biblioteca Municipal Abdias Neves.


    Segundo os usuários do local há mais de cem comerciantes cadastrados e que possuem ponto fixo, contribuem por semana com uma quantia em dinheiro para manutenção e vigilância das mercadorias que ali ficam expostas. Há também vendedores não cadastrados, trabalhando ali clandestinamente, gerando a fama de venda de produtos roubados no local.
    Sofreu uma reforma em 2009, executada pela Superintendência Municipal de Desenvolvimento Urbano – SDU Centro/ Norte. Recuperaram o piso, tiraram o concreto e substituíram por granilite, restauraram o teto e fizeram novas instalações elétricas e hidrosanitárias.
    O Troca-troca precisa de uma nova restauração e de limpezas freqüentes, além de uma melhor organização com relação às categorias de mercadorias expostas. O movimento intenso e a grande quantidade de mercadorias tomam parte da calçada, impossibilitando a circulação livre de pedestres, que por conta disso as pessoas descem da calçada e caminham pelo meio fio, disputando espaço com ciclistas e automóveis.


Apresenta uma arquitetura de linhas simples e puras, contemporânea e com estrutura sistemática, não gera conflitos com o conjunto do entorno. Foto: Loraynne Lima, 2011.


    ESTAÇÃO ENGENHEIRO ALBERTO TAVARES SILVA

    Estação de metrô suspensa, com estrutura em concreto armado passando sobre a Av. Maranhão, inaugurada em 2010. Recebeu este nome em homenagem ao ex-governador Alberto Silva, que foi o idealizador de todo esse sistema, esteve presente na realização do projeto juntamente com outros profissionais da área da construção civil.


Estação Engenheiro Alberto Tavares Silva, terminal do metrô interligado com o Shopping da Cidade.
Foto: Loraynne Lima/ Teresina, dezembro de 2011.


Terminal em estrutura de concreto armado, suspensa, passando sobre a Av. Maranhão.
Foto: Loraynne Lima/ Teresina, dezembro de 2011.


Imagem do terminal do metrô e toda sua estrutura metálica bem presente na volumetria.
Foto: Loraynne Lima/ Teresina, dezembro de 2011.


    SHOPPING DA CIDADE

    Um espaço comercial criado para abrigar os vendedores ambulantes que antes ocupavam as ruas do centro da cidade, inaugurado em 2009 e projetado pelo arquiteto Júlio Medeiros. Possui 13.487,49 m² de área construída, com 3 pavimentos interligados por quatro escadas rolantes, cinco escadas convencionais e dois elevadores, baterias de banheiros em cada andar e uma sala de vídeo e reuniões. Oferece diversos serviços, como, caixa eletrônico, Caixa Econômica Federal, praça de alimentação com 35 lanchonetes, Correios, Cepisa, Agespisa, dentre outros. Possui integração com a Estação de metrô. Com estrutura mista, aço e concreto, sendo seus elementos verdadeiramente representados de maneira aparente, até mesmo suas instalações elétricas e hidráulicas.
    Um execelente projeto, com soluções criativas, porém o problema está na sua implantação.


Maquete eletrônica do Shopping da Cidade e sua integração com o metrô.
Fonte: Escritório Júlio Medeiros


Shopping da Cidade
Foto: Loraynne Lima/ Teresina, dezembro de 2011.


Croquis do complexo da Praça da Bandeira, com Shoppig da Cidade, Troca-troca e Estação do metrô.
Fonte: Escritório do arquiteto Júlio Medeiros.


Imagem interna do Shopping da Cidade.
Foto: Rebecca Nunes/ Teresina, dezembro de 2011.


    O Shopping da Cidade gerou grandes problemas para a área, poluição visual, conflitos entre pedestres e automóveis, ausência de diálogo com o entorno histórico, falta de acostamento e de estacionamento o que só aumentou os congestionamentos, porque a largura das ruas é insuficiente para  fluxo intenso. A distancia entre a praça e o rio não chegam a 20 metros, gerando assim esse estrangulamento. A estação do metrô com o shopping cria uma barreira visual para a paisagem histórica do entorno, Praça da Bandeira e seus edifícios.


    PRAÇA DA BANDEIRA (1852)

    A atual Praça Marechal Deodoro (também conhecida como Praça da Bandeira) já foi chamada de Largo do Amparo e Praça da Constituição. É o núcleo inicial de povoamento de Teresina, Vila Nova do Poty, ao redor da qual foram erguidos os mais importantes edifícios públicos da nova Capital, a partir dela se deu início ao planejamento de Antônio Saraiva. Destaca-se por não herdar a configuração das praças paroquiais da séc. XVIII no Piauí e abriga uma vegetação natural da região.
    Em 1941, a praça passa pelo seu auge, mais arborizada e com viveiros de pássaros, usada para a locação de circos, para atividades de lazer. Em 1965 recebe outros equipamentos, a praça é fechada e ganha o Teatro de Arena, com linhas modernas.
    Possui um caráter dinâmico no que diz respeito as atividades desenvolvidas no seu entorno imediato, onde há equipamentos institucionais, culturais, comerciais, como por exemplo, Mercado Central, Shopping da Cidade, ambulantes e Troca-troca. Além desses já citados, compõem a arquitetura do entorno a Igreja do Amparo, Palácio da Justiça, Museu do Piauí, Fundação de Cultura Estadual e COMEPI.


Praça da Bandeira na década de 30.
Fonte: Acervo do IPHAN.


Praça da Bandeira na década de 70.
Fonte: Acervo Cid de Castro Dias


Imagem da Delegacia Fiscal à esquerda e a mesma edificação hoje o Juizados Especiais da Justiça Federal. Entorno da praça.
Fonte: Cid de Castro Dias, 2006, p.19.


    PONTE GOVERNADOR JOSÉ SARNEY

    A Ponte José Sarney, mais conhecida como Ponte da Amizade é a mais nova comunicação entre Teresina e Timon, inaugurada em 2002. Construção moderna, de quatro pistas, em concreto e aço, produz um contraste interessante com a Ponte Metálica, sua vizinha mais antiga.
    Para suavizar a sua imagem a ponte recebeu 60 painéis, com imagens de pontos turísticos da capital nas alças de acesso do lado de Teresina, melhorando o visual da ponte. O projeto prevê ainda a pintura da mureta por toda a extensão da ponte, até o Troca-Troca, a recuperação do passeio, melhorias da iluminação.


Imagem dos painéis na Ponte da Amizade.
Foto: Rebecca Nunes/ Teresina, dezembro de 2011.


Imagem da Ponte José Sarney.
Foto: Rebecca Nunes/ Teresina, dezembro de 2011.


    PRAÇA DA COSTA E SILVA

    Foi edificada sobre a Lagoa da Palha de Arroz e inaugurada em 1977, durante o primeiro mandato de Alberto Silva, localizada entre as Av. Maranhão e José dos Santos e Silva, região central da cidade.
    Para o projeto da praça, o governador convidou o arquiteto Acácio Gil Borsói e o paisagista Burle Marx. O memorial em homenagem ao poeta é composto por uma estrutura de concreto em balanço que forma a cascata que alimentava o espelho d’água, teve árvores importadas para sua ornamentação, como abricós-de-macaco, da região amazônica.
    Infelizmente a praça hoje está descaracterizada, as placas dos poemas foram roubadas, só restando a placa de concreto, com a biografia do poeta, a cascata e o espelho d’água encontram-se desativados. Assim como a Praça da Bandeira, a Praça da Costa e Silva é cercada por grades, o que não é nem um pouco convidativa, além de facilitar a marginalização e a depredação de seus monumentos.


Praça da Costa e Silva e seus espelhos d’água.
Foto: Karlos Eduardo/ Teresina, fevereiro de 2008.


Praça da Costa e Silva.
Foto: Rebecca Nunes/ Teresina, dezembro de 2011.


Monumento em homenegem ao poeta Da Costa e Silva.
Foto: Rebecca Nunes/ Teresina, dezembro de 2011.


    CEPISA

    Para a escolha do projeto do edifício foi realizado um concurso, cujo primeiro lugar foi do arquiteto Antonio Luiz. Foi criada no governo de Francisco das Chagas Rodrigues, eleito em 1958, sendo sua sede atual construída em 1973, durante o governo de Alberto Tavares Silva.
    Edifício de linhas circulares faz referência a um gerador, arquitetura moderna, com volumetria arrojada e inovadora para a época.
     A intenção do arquiteto era repassar a idéia de discos superpostos marcados por aberturas para a iluminação. As esquadrias são de vidro, protegidas da insolação pela própria estrutura em concreto aparente, que também camufla os aparelhos de ar-condicionado.  As salas são dispostas em torno de um corredor circular que dá acesso a um grande vão central aberto, que facilita a circulação dos ventos, conseguida também através dos pilotis, atualmente fechado com vidro.
     O prédio fica escondido devido ao muro externo ser bastante alto e também devido a vegetação existente. Encontra-se em bom estado de conservação, mas devido a várias reformas que tem sofrido, está descaracterizado com relação ao seu projeto original.


Cepisa da década de 70.
Fonte: Acervo da Maloca Arquitetura e Engenharia.


Perspectiva do edificio da CEPISA. Projeto do arquiteto Antônio Luiz.
Fonte:Maloca Arquitetura e Engenharia
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Imagem da volumetria do edifício.
Foto: Loraynne Lima/ Teresina, dezembro de 2011.


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Disciplina: Leituras da arquitetura e da cidade, 2011
Prof.ª Dsc. Alcilia Afonso
Componentes:
    - Igor Almeida
    - Rebecca Nunes
    - Loraynne Lima

Edição e Diagramação: Emerson Mourão e Vanessa Cordeiro

TERESINA SÉCULO XXI: Contrastes urbanos

Leituras da arquitetura e da cidade
BAIRRO MAFUÁ

           O Mafuá é um dos mais antigos bairros da cidade de Teresina. Distante apenas cerca de 1 km do bairro Centro, conta com uma população de 2.861 habitantes (dados do censo IBGE/2010). Desde sua origem, tem-se visível a predominância do comércio como fonte de renda e fator condicionante da organização do bairro, fato que se comprova no histórico do bairro e na disposição das tipologias ao longo das ruas estudadas (o comércio se concentra na principal rua do bairro, a Rua Gabriel Ferreira).

Fig. 1 - Mapa vetorizado dos bairros de Teresina. Fonte: Arquivo da Prefeitura Municipal de Teresina. 2010.

HISTÓRICO

    A formação do bairro deu-se no início do século XX, por ocasião dos trabalhos de nivelamento da Estrada do Gado (Avenida Circular, hoje Avenida Miguel Rosa), para a colocação dos trilhos da estrada de ferro, que tinha a função de ligar Teresina a São Luís, capital do Maranhão.
    Na década de 1920, o responsável pela obra, capitão engenheiro José Faustino Santos e Silva, chamou a área de Mafuá, referindo-se às atividades de feira livre e à venda de comida aos trabalhadores no local da construção do parque ferroviário. Além disso, havia a necessidade da construção de uma ponte para manter o acesso do bairro ao centro da cidade, separado pelo corte. A palavra “mafuá” origina-se do francês ma foire, que quer dizer “minha feira”.
    Tudo começou quando, nos anos 30, o comerciante Augusto Ferro de Sousa chegou ao bairro trazendo com ele a prática do comércio e dando movimento às ruas Gabriel Ferreira e Amazonas, sendo assim considerado o pioneiro das atividades comerciais do Mafuá. Augusto Ferro possuía uma mercearia, chamada Quitanda Nova e uma sorveteria e picolé Amazonas, a qual permanece até os dias atuais. O comerciante era dono de um grande terreno no cruzamento das ruas Gabriel Ferreira e Amazonas, que circundava seus pontos comerciais e que, após ter sido dado início a atividade comercial na região, foi se vendo cercado de outros comércios a céu aberto, dando origem às feiras livres. Esses comércios não passavam de bancas simples, feitas de madeira, que não pagavam impostos ao governo, pois o terreno era de Augusto Ferro, então os impostos eram cobrados por ele.
Quando morreu, seu patrimônio, dividido entre os filhos, foi quase todo vendido, restando apenas o ponto de venda da sorveteria e picolé Amazonas, ainda tocado por um de seus filhos, chamado Herbert Ferro, junto com a esposa.
    Com o início do movimento do comércio, ainda que de forma precária e desorganizada, a Prefeitura Municipal de Teresina, em 1966, com o então prefeito Hugo Bastos, iniciou a construção do prédio destinado ao mercado público do Mafuá, na Rua Lucídio Freitas, que recebeu o nome de Tersandro Paz, passando também a ser conhecido popularmente como Mercado do Augusto Ferro. A partir daí, o bairro passou a ter um local estruturado e apropriado para o melhor desenvolvimento das atividades comerciais, que já vinham ocorrendo no antigo mercado do Augusto Ferro, onde se realizava a venda de carnes, frutas e verduras.
    Dentre os antigos restaurantes que existiam no bairro Mafuá durante as décadas de 1970 e 1980, destacou-se o restaurante de Maria Tijubina, o qual ficou famoso pela venda de comidas típicas nordestinas, atraindo não só a população do bairro, como também de outros bairros e até mesmo de fora da cidade. O restaurante foi instalado no início da década de 60, nas imediações da linha férrea, próximo à Praça Augusto Ferro. Hoje, o local não existe mais.
    Muitas transformações ocorreram influenciadas pelo fluxo crescente do comércio na região. De início, a região teve a quantidade de pontos comerciais e, com eles, a quantidade de domicílios aumentada. Hoje no local, temos também pontos comerciais bastante conhecidos em todo o estado, o Comercial Carvalho e a panificadora Modelo, que apesar de serem grandes empresas e que exercem forte concorrência, não há um monopólio da clientela local por parte destas, o que demonstra o quanto o bairro possui esse aspecto tradicional e até mesmo familiar (a maioria dos habitantes se conhece de nome e conhece a história do local em que vive, além de manterem o costume de fazer compras e tomar café no mercado.

PERFIS DA PAISAGEM CONSTRUÍDA

    Alguns perfis desta análise merecem destaque:

Fig. 2 - Antiga Praça Augusto Ferro. Foto: Arquivo pessoal. 1970.

Fig. 3 - A Praça Augusto Ferro, freqüentada por moradores locais, possui uma banca de revistas e um ponto de táxi. Recebeu o nome em homenagem ao famoso comerciante considerado pioneiro nas relações comerciais no bairro. As casas que existiam próximas ao corte, hoje não existem mais. Foto: Sammia Araújo. 2010.

Fig. 4 - A Sorveteria e Picolé Amazonas é o único ponto restante da herança de Augusto Ferro. Seu filho Herbert, juntamente com a esposa, toca o negócio de venda de picolés do pai, já falecido. Foto: Amina Andrade. 2010.

Fig. 5 - Mercado Tersandro Paz ou Mercado do Mafuá, logo após sua construção, iniciada em 1966. Foto: Arquivo pessoal. 1970.

   O Mercado Tersandro Paz, mais popularmente conhecido como Mercado do Augusto Ferro, é um ponto freqüentado tanto por gente do bairro, quanto por pessoas de outros bairros, que vão ao mercado para tomar café, almoçar ou fazer compras. O mercado funciona todos os dias, das 5 da manhã às 1 da tarde. Além dos permissionários, possui também 2 funcionários que cuidam da administração, 4 zeladores e 4 vigias. Lá se pode encontrar desde confecção, miudezas, lanchonete e mercearia, até a venda de carne, frango, peixe, vísceras, frutas, cereais e verduras.


Fig. 6 - Foto tirada do mesmo local que a anterior (fig. 5), 40 anos depois. Pode-se perceber que tanto o viaduto do Mafuá quanto o Mercado Tersandro Paz estão diferentes, e até mesmo o próprio bairro: o local onde ficavam casebres e bancas de madeira com feira livre, hoje dá lugar a uma das maiores redes de mercados do estado, o Comercial Carvalho. Foto: Amina Andrade. 2010.

Fig. 7 - Entrada principal do Mercado Tersandro Paz. Foto: Amina Andrade, 2010.

MOBILIÁRIO URBANO E INFRAESTRUTURA DO BAIRRO

    Ao longo da rua, podemos observar a presença de postes, no entanto, a iluminação noturna não é muito eficaz. Não há lixeiros, nem pontos de ônibus, nem mesmo nas ruas que limitam o bairro – que são as que fazem parte do percurso do transporte público. Há também alguns telefones públicos, inclusive dentro do mercado.
    As calçadas possuem muitos desníveis e buracos e pouco se vê rampas de acessibilidade aos estabelecimentos. O esgoto é regular e a coleta de lixo é feita nas ruas do bairro, embora se encontre muito lixo abandonado no corte por onde passa o metrô. Além disso, o trânsito não costuma “parar”, exceto nos fins de semana, segundo alguns comerciantes, quando o movimento é mais intenso.
    Além disso, também se pode destacar como pontos negativos do bairro: o mau cheiro em todos os locais que se visita próximos às áreas comerciais e a falta de segurança pública, pois não há policiamento local.

Fig. 8 - Calçada da Rua Gabriel Ferreira, principal rua do bairro e de maior movimentação comercial. Foto: Amina Andrade. 2010.

Fig. 9 - Uma das poucas rampas de acessibilidade encontradas no local. Foto: Amina Andrade. 2010.

Fig. 10 - Lixo abandonado no corte por onde passa o metrô, apesar da coleta existir na região. Foto: Amina Andrade. 2010.

Fig. 11 - Corredores internos do Mercado Tersandro Paz, onde se pode perceber certo descaso no que se refere à salubridade do ambiente. Fotos: Amina Andrade. 2010.




Disciplina: Leituras da arquitetura e da cidade, 2011.

Prof. ª Dsc. Alcília Afonso

Componentes:
 - Amina Andrade
 - Sammia Araújo

Edição: Amina Andrade (estudante de arquitetura-UFPI)
Diagramação: Emerson Mourão (estudante de arquitetura-UFPI)

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Vila Ininga: Projeto urbano de recuperação de área degradada e inclusão social em Teresina.

Artigo publicado no SAL - Seminário de Arquitetura Latino-Americana



Este texto apresenta o trabalho que vem sendo realizado de assistência técnica a uma comunidade, conhecida como Vila Ininga, situada na zona leste da cidade de Teresina, capital do Estado do Piauí, e que busca recuperar uma zona degradada urbana, através de soluções inovadoras de habitação de interesse social e que, paralelamente, possibilite a inclusão social desta comunidade que vive na área a mais de cinquenta anos, de forma marginal.

O trabalho vem sendo realizado graças a um projeto de extensão, vinculado ao PROEXT/ MEC e ao Ministério das Cidades; a um projeto de pesquisa de iniciação cientifica, PIBIC, bem como, através de atividades didáticas nas disciplinas “Leitura da Arquitetura e da Cidade” e “Projeto Arquitetônico 6” , que tem direcionado os trabalhos acadêmicos para esta área.Dessa forma,  o tripé ensino/ pesquisa e extensão é que vem dando suporte para a execução das etapas do projeto de intervenção urbana na área.Pode-se afirmar que aproximadamente cinquenta pessoas, entre alunos, docentes e colaboradores estão voltados para coleta de dados, estudos de diagnósticos, análises arquitetônicas e urbanas, e propostas para o bairro Ininga.

Os atores envolvidos neste projeto são a comunidade local que vive na Vila Ininga, a Prefeitura Municipal de Teresina, através da SDU Leste, a Igreja católica através da Paróquia de Fátima, que desenvolve um trabalho de inclusão social na região e a Universidade Federal do Piauí, através do Centro de Tecnologia que vem realizando este projeto de requalificação urbana.

2. Projeto urbano de recuperação de área degradada e inclusão social em Teresina.

2.1. Alguns esclarecimentos sobre os problemas habitacionais em Teresina
Figura 01: Mapa de  Teresina com detalhe da localização do bairro em estudo
Fonte: Google maps

Ao analisar-se a questão das políticas públicas desenvolvidas em nível municipal para o problema da habitação de interesse social em Teresina, chegou-se à conclusão de que as propostas existentes são desprovidas de soluções mais humanas e sustentáveis. Nos vários programas existentes não existe uma proposta voltada para uma melhoria, de fato, na qualidade de vida dos habitantes das propostas utilizadas: as instituições não inovam, e apenas repete um padrão de habitação unifamiliar, um “modelo”, desvinculado dos aspectos sócio-culturais e geográficos locais.
São construídas milhares de casas, em terrenos devastados de vegetação, sem uma preocupação com o desenho urbano da área, desprovidos de áreas de convivência, de praças, construindo-se assim, uma paisagem desumana e árida. Paralelo a tais soluções, a população carente, continua construindo seus “ mocambos” em áreas invadidas, utilizando a taipa de pau a pique nas paredes, coberturas em palha de carnaúba, pisos de terra batida, sem banheiros, sem rede de saneamento e esgoto, e com condições precárias de salubridade, enfim“sobrevivendo” de uma forma primitiva, que nos remete à cultura indígena regional das matas dos cocais.
A habitação popular não se resume apenas a um produto, e sim a um processo, caracterizada como resultado de uma relação complexa de produção com determinantes políticos, sociais, econômicos, jurídicos, ecológicos, tecnológicos. Não se deve resumir a habitação popular à unidade habitacional, sendo necessário que seja considerada de forma mais abrangente contemplando aspectos como serviços urbanos: infra-estrutura urbana, equipamentos sociais, de lazer, educacionais, esportivos e de geração de emprego e renda.

2.2. A área em estudo: Vila Ininga.

Figura 02: Localização do bairro Ininga na cidade de Teresina
Fonte: Google maps


A Vila Ininga está localizada na zona leste de Teresina, em uma área de fortes contrastes urbanos, compostas por residências de padrão médio alto e de casas auto-construídas, que denotam a falta de planejamento urbano municipal para esta região.

A área em estudo fazia parte das terras da Fazenda Ininga (Fig. 02), que deu origem ao nome do da Vila.  Em 1978, foi criada no local, uma cerâmica administrada pelas Famílias Fortes e Freitas nas terras pertencentes ao Sr. Noé Fortes. Muitas famílias se instalaram na região para trabalharem na produção cerâmica, consolidando-se na área e dando origem às primeiras comunidades. Através de depoimentos dados, soube-se que após algum tempo, houve uma cisão na sociedade das famílias Freitas e Fortes, fazendo com que a família Fortes criasse a Cerâmica Fortes e Barroforte, e se transferissem para a zona rural de Timon, no Maranhão. A família Freitas permaneceu com o nome da Cerâmica Livramento, que após algum tempo, também foi transferida para Timon.

Observou-se em visita realizada ao local, que até os dias atuais, muitos dos descendentes dos antigos funcionários, ainda habitam a área de forma primitiva, sem nenhuma infra-estrutura urbana. A região na qual estas famílias vivem é conhecida nos dias atuais como Vila Ininga e Vila Cerâmica, e fazem parte do bairro Ininga. Por outro lado, houve outro fato marcante na evolução urbana do bairro, que foi a implantação de um Campus Universitário no bairro que valorizou mais a área, atraindo novas residenciais, mas que nenhuma melhoria trouxe para a comunidade que vive na Vila Ininga.


Quanto à infra-estrutura do bairro, observou-se que a maioria das ruas não é pavimentada, sendo estas em terra, sem iluminação pública apropriada. O abastecimento de água é realizado pela AGESPISA, mas o local não possui rede de esgoto, observando-se ainda que não existe coleta de lixo. Tal quadro é propicio para a proliferação de doenças, como a dengue, o calazar, entre outras enfermidades tropicais.

Figura 03: Diagnóstico de espaços e usos da Vila Ininga.
Fonte: Disciplina: Projetos arquitetonicos 6.DCCA/CT/UFPI.Agosto de 2011

No local existe apenas como equipamento urbano (Figura 03), uma escola municipal de ensino fundamental, uma Igreja católica, a casa paroquial e uma creche mantida por uma ONG alemã. A população queixou-se do abandono por parte da Prefeitura, que segundo eles, não dão nenhum tipo de assistência ao local. Observou-se nas visitas em campo e nas entrevistas, que é a Igreja Católica, através da Paróquia de Fátima, que vem realizando um trabalho social na região.
Quanto às tipologias habitacionais existentes na Vila Ininga (Figura 04), observa-se que as casas são auto construídas, sendo grande parte com paredes em taipa ou em tijolo com furos, cobertas com telhas cerâmicas e sem reboco. No programa de necessidades destas casas, observa-se que o número de cômodos é mínimo e grande parte delas, somente possuem uma sala, um quarto e cozinha. Os banheiros inexistem e o que há, são pequenos espaços externos fechados com palha de babaçu, descobertos, aonde os usuários tomam seus banhos.
Figura 04:Tipologias habitacionais da comunidade. Fonte: Autoria de Priscila Meneses, Thabata Duarte e Rayla Meneses . Relatório final de Extensão. PROEXT/DCCA/CT/UFPI. Dezembro de 2011.

São aproximadamente cinquenta casas auto construídas e que a cada dia aumentam mais, devido ao processo acelerado de invasões na área. Os terrenos não possuem documentação legalizada, e a grilagem domina, através de pessoas que comandam estas invasões, como por exemplo, um senhor conhecido por “Pezão” que “gerencia” estas invasões.

Figura 05: Localização do bairro Ininga na cidade de Teresina
Fonte: Fotografia de Alcilia Afonso. Abril de 2011.
           
Quanto à ocupação profissional dos habitantes que vivem na vila, observou-se que os homens trabalham em sua maioria na construção civil, como serventes, pedreiros, eletricistas, e as mulheres em lavagem de roupas e costura.

2.2. Propostas de requalificação urbana para área.
2.2.1. Criação de um centro social urbano

Figura 06: Centro Social Urbano
Fonte: Autoria Bruna Araújo,Luzia Lisboa e Philipy Rodson. GAU/ DCCA/CT/UFPI.Agosto de 2011

A proposta é dotar a área de um complexo arquitetônico dotado de equipamentos culturais como auditório,biblioteca, e espaço expositivo; equipamentos

2.2.2. Propostas para habitação de interesse social


Figura 07: Residencial em terreno da Vila Ininga para o programa Minha Casa Minha Vida.
Fonte: Autoria Bruno Andrade. Projeto de TFG2. GAU/ DCCA/CT/UFPI.Agosto de 2011


Autores do artigo
AFONSO, ALCÍLIA (1); MENESES, PRISCILA (2); LEITÃO, FERNANDA(3);

1.      Doutora em projetos arquitetônicos (ETSAB/2006) e professora associada nível 2 do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFPI.

2.      Estudante de Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFPI.
Bolsista de extensão/PROEXT 2010

     3. Estudante de Graduação em Arquitetura e Urbanismo da UFPI.
          Bolsista PIBIC 2011